A República Democrática de São Tomé e Príncipe é um país localizado no golfo da Guiné, na África Equatorial, formado por duas ilhas principais (São Tomé e Príncipe) e vários ilhéus, constituído por um território montanhoso, vulcânico e coberto de florestas tropicais. A maioria da população reside na capital, São Tomé, e conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 50% dos habitantes vive abaixo da linha de pobreza, ou seja, com cerca de um euro por dia.
Foi este o destino de Susana Magalhães, antiga estudante do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto (ISCAP) que, durante um ano, trabalhou diretamente com a população do Bairro da Boa Morte no âmbito da missão da ONGD católica Leigos para o Desenvolvimento que promove o “desenvolvimento integral e integrado” em países de expressão portuguesa. Têm projetos nas áreas da Formação e Educação, da Dinamização e Organização Comunitária, Empreendedorismo e Empregabilidade, Capacitação de Agentes Locais, Promoção do Voluntariado e Pastoral.
O voluntariado sempre fez parte da vida desta antiga estudante do ISCAP. Cada decisão tomada implica uma parcela de tempo devotada a mudar a vida dos outros. Nascida em Famalicão, Susana começou a vida académica em Filosofia, na Faculdade de Letras do Porto. Um ano passou e sentiu necessidade de mudar, procurar outras perspetivas, já a pensar no futuro profissional. A escolha recaiu na licenciatura em Marketing do ISCAP. Foi uma mudança que fez sentido, sobretudo pela possibilidade de “contacto com os outros”. O marketing social foi uma escolha importante, refere, "pela força que pode ter em despertar consciências e até modificar atitudes e comportamentos”. O marketing aliou-se assim a uma paixão antiga: o voluntariado.
O tempo que passou no ISCAP foi para a alumni um momento de grande crescimento pessoal e formativo. “Entre outras coisas”, diz, “aprendi a valorizar-me e a conhecer melhor os meus pontos fortes e os que precisam de mais dedicação, a desenvolver habilidades e aptidões, a fazer escolhas e a aprender com elas”.
E foram escolhas decisivas aquelas que tem pautado a sua vida. Tal como o ano de Erasmus passado na Turquia, marcado por um acidente de percurso: "Parti uma perna e após uma semana soube que tinha de ser operada. Dada a urgência da situação decidi passar todo o processo cirúrgico e de recuperação ali, fora da minha zona de conforto." Foi uma experiência reveladora, conta: "Vivi cerca de três meses a fazer aquilo que nenhum jovem num país diferente sonha fazer, passar grande parte do tempo em casa e dependente dos amigos." E foi aqui que a Susana voluntária sofreu na pele o altruísmo dos outros, dos amigos que a receberam, das festas lá em casa para poder estar presente, dos dias em que os professores ajustavam o método de ensino. "Foram dias de muito companheirismo", recorda.
Terminado o curso, em 2013, parte para a aventura em São Tomé. Aqui foi responsável pela formação profissional, por trabalhos ligados à representação institucional e para angariação de fundos. No âmbito mais pastoral da missão Susana teve também a oportunidade de acompanhar e dinamizar um grupo de jovens. Foi um choque com uma realidade difícil, destaca, "muito dependente da ajuda externa e com poucas oportunidades profissionais e académicas".
Por outro lado, refere, aquele é um "país riquíssimo" com muito para dar e contar, carregado de contos, de mística, um paraíso no que toca às paisagens e uma verdadeira escola no que diz respeito à alegria de viver, à hospitalidade, à simpatia, ao sorriso fácil. A maior riqueza de São Tomé e Príncipe, conclui, "são as pessoas".
Hoje, para além das saudades dos amigos de São Tomé, sente que regressou mais rica, com “uma nova identidade”, uma identidade que ficou lá que é “parte de mim, pelo muito que fui e vivi durante aquele ano, mas muito em especial pelas pessoas que conheci e que levo para a vida”.