Ouvi, no fim de janeiro, António Guterres falar, em Serralves, do colapso do sistema europeu, da crise da governação global num Mundo fragmentado, pluripolar onde "não há responsabilidade", "respeito", capacidade de pensar e impor ações conjuntas. Braga da Cruz tinha dado o mote na introdução à conferência: o Mundo converge ou desintegra-se? Guterres, resistindo à frustração acumulada ao longo de 10 anos como alto-comissário da ONU para os Refugiados, gritou numa voz baixa e cansada: desintegra-se, por isso é urgente dizê-lo.
Esta semana, o Supremo Tribunal americano, com base na ação movida por centrais de produção de energia a partir do carvão, suspendeu o programa de combate às alterações climatéricas que a administração de Barack Obama estava a tentar implementar. O acordo de Paris, onde uma nova política era anunciada com laivos de emoção e humanismo, fica mais uma vez abalado, pois a China e a Índia dão, agora, sinais claros de que apanharão a boleia do recuo!
Por cá, o Governo comprou mais uma fatia na participação na TAP, ficando detentor de 50% e com direito a veto. Mas não participa no Conselho Executivo da empresa e, como tal, não tem poder para decidir nas rotas da companhia!
As lágrimas de Obama, a propósito do controlo do uso pessoal de armas, têm a mesma cor do cansaço resiliente de Guterres, do grito de revolta de Rui Moreira, ou do náufrago no mar de Lesbos com um colete salva-vidas pirateado - a impotência contínua de quem sabe que, no fim, será sempre ultrapassado. Por quem? Pelo aparelho, pelos interesses visíveis e ocultos, pelo centralismo da capital, por Bruxelas, pelo capricho do manga de alpaca que está na secretaria...
E, porém, quando visto na sua solidez mais crua, tudo parece simples: há refugiados (mais de 50 milhões) porque há guerra e fome - os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, com direito de veto, vendem armas a quem as faz. Há, hoje, cerca de 12 países a bombardear a Síria numa guerra que dura há cinco anos, fez 250 mil mortos e 11 milhões de deslocados.
Mas não é simples! A crise política é maior do que a crise económica ou financeira. Que o digam a ineficácia dos bancos centrais e a desregulação do sistema financeiro; os que saíram a pé de Alepo e aguardam, os mais pobres dos pobres que lá ficaram e já não esperam.
No Porto, vamos ver passar os aviões!
Link para o JN