Professor na área científica de História da Música é também subdiretor do departamento de Música e coordenador da Área de Teoria.
QUANDO COMEÇOU A TUA LIGAÇÃO À ESCOLA?
A ligação institucional começou há 20 anos, quando fui contratado para dar aulas de várias disciplinas de História da Música, bem como Projecto Pessoal e Introdução à Metodologia Científica. A ligação afectiva começou muito antes, aquando do início dos cursos de Música há 30 anos, pois conhecia de perto todos os professores da comissão instaladora: a pianista D. Helena Sá e Costa (1913-2006) era a figura carismática do Porto que presidia à comissão; a Professora Teresa Macedo foi minha professora de Composição no Conservatório de Música do Porto (fim da década 1970); com o Professor Filipe Pires tive aulas de Análise Musical; e o Professor Fernando Jorge de Azevedo foi o pianista do meu recital final do Curso de Canto em 1982, na classe da Professora Fernanda Correia (reencontrei-os na ESMAE em 1998, já não como aluno mas como docente).
COMO RECORDAS OS PRIMEIROS TEMPOS?
Nesse ano de 1998 decorriam as obras no edifício da antiga Escola do Magistério Primário, que ainda hoje ostenta na fachada a centenária data de 1885 (133 anos!) e foi totalmente remodelado, mantendo-se apenas as paredes exteriores e construindo-se o Teatro Helena Sá e Costa no espaço do pátio interior. Recordo uma escola bem mais pequena que esta, com turmas de teoria de cerca de 15 alunos. Nesse ano, as aulas funcionavam no antigo edifício do ISCAP, na rua de Entreparedes, velhinho e com poucas condições.
O QUE TORNA O TEU TRABALHO ESPECIAL?
É o contacto permanente com jovens músicos, que são os “atletas de alta competição” da Música, cheios de sonhos, aspirações, vontade de trabalhar e de melhorar. É o contacto constante com o lado institucional, seja da Escola ou do IPP: sou o professor do Departamento de Música que há mais tempo está no Conselho Científico, sem interrupção desde 1998. Mais do que uma constatação, é a exigência ética de ter uma visão global, atenta, que ajude a escola a perceber o que é essencial ou o que é acessório, o que é permanente ou o que é efémero. Ao fim de 42 anos a trabalhar na Música e com 62 de idade, estou profundamente grato à Vida, como diz a bela canção Gracias a la Vida, de Violeta Parra (1966).
O QUE TORNA ESTA ESCOLA ÚNICA?
É em primeiro lugar a ligação permanente à prática musical, pois um estudante, um futuro músico precisa de um estudo persistente e quotidiano do seu instrumento. Mas não basta mexer os dedos: a cabeça, a mente, a teoria, o estudo inteligente são essenciais e acompanham esse esforço. Além disso, é a única escola superior de Portugal com um departamento de Música e outro de Teatro, o que possibilita trocar experiências e realizar projetos multidisciplinares com muitas valências. Como exemplo eloquente, a concretização de uma Ópera: Música, Canto, Instrumento, Coro, Orquestra, Interpretação Cénica, Luz, Som, Figurinos, Cenografia, Produção Musical e Teatral unem-se e proporcionam um espetáculo verdadeiramente único. Na bela expressão de Wagner, uma “GesamtkunstWerk” /“Obra de Arte Total”.
O QUE MAIS MUDOU NESTES ANOS?
Foi a qualidade e a quantidade. No ano 2000 tínhamos 276 alunos de Música e em 2018 temos 557; no Teatro, passámos de 110 para 128. Ao mesmo tempo, mudámos de um conjunto de 3 + 1 anos (bacharelato + licenciatura) com 386 alunos, para um conjunto de 3+2 anos (licenciatura pós-Bolonha + mestrado) com 685 alunos (há ainda 27 alunos de pós graduações). No caso da Música, foi um salto de cavalo! No entanto, continuamos a prezar e a cultivar a Excelência, mesmo sabendo que o aumento da quantidade é um risco. A qualidade dos alunos de música à entrada tem vindo a melhorar, fruto de um ensino secundário especializado que se tem reforçado.
CONTA UM EPISÓDIO MARCANTE
Entre muitos outros, a recente inauguração, nos 30 anos da ESMAE, do “Cantinho da Memória”, como eu gosto de chamar ao espaço (mesmo à entrada da escola) onde se colocaram os nomes dos 29 professores que se reformaram ao longo destes anos. Sabe porquê? Porque sem Passado não há Presente e Futuro, sem sabermos o que Fomos e o que Somos não prepararemos bem o que Seremos! Foi tão emocionante rever nessa singela cerimónia alguns desses ex-colegas que, estando na casa dos noventa anos, se mantêm jovens de espírito, como a Professora Teresa Macedo ou a Professora Fernanda Correia! E recordar os que já partiram e permanecem em espírito, como a Professora D. Helena Costa e o Professor Francisco Beja.
UMA IDEIA PARA O FUTURO
Que a Escola continue a praticar o trinómio Fazer / Saber/ Saber Fazer. Que o aumento das instalações seja concretizado em breve, pois estamos a rebentar pelas costuras. Somos uma escola aberta 24 horas, que permite que um pianista ou qualquer aluno venha estudar e fazer música a qualquer hora da noite, mas durante o dia é quase impossível haver salas de estudo!
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A rubrica Um de Nós representa um espaço de partilha de experiências, ideias, histórias, e projetos, com uma breve entrevista a estudantes, docentes e não-docentes. É nossa convicção que cada Escola guarda — nos seus bastidores, salas, corredores e gabinetes — muitos rostos e talentos. Queremos ser a voz de cada um de nós porque as grandes histórias por vezes estão mais próximas do que imaginamos